Futebol: um ambiente educativo

A quem cabe o papel de educar?

Certa vez estava eu como treinador de uma equipe sub20 e resolvi realizar uma atividade em grupo. Juntos no ambiente estavam os jogadores e a comissão técnica. Deixei a dinâmica aberta para quem quisesse participar, portanto, haviam também pessoas do staff e da diretoria do clube. O momento tinha por objetivo abrir um espaço de fala para os atletas, onde a partir das palavras de um atleta outros pudessem se identificar, acredito que quando bem conduzida esta ação promove vínculo, além de estreitar as relações. Como sei disso? Ja havia promovido o exercício em outro clube e sabia do potencial dele. Terminada a atividade, que acabou se estendo um pouco por conta da necessidade de todos terem um espaço de fala, fui surpreendido com o seguinte questionamento por um dos participantes: "Professor, mas isso ganha jogo?"

A educação é um processo contínuo de desenvolvimento humano que visa oferecer conhecimentos, habilidades e valores essenciais para a vida em sociedade. É por meio dela que as pessoas aprendem a lidar com desafios, tomar decisões, interagir com o mundo, mas principalmente exercer sua cidadania. Ela é um direito universal, que deve ser garantido a todas as pessoas, independentemente de sua condição social, econômica, étnica ou cultural.

Quando falamos de equipes de futebol, consideramos o ambiente onde estão inseridas como educativo. Portanto, cabe as pessoas deste contexto - onde destaco o treinador - a responsabilidade de organizá-lo e liderá-lo para então ser capaz de promover educação. Ao falar do "comandante" não estamos considerando apenas o aspecto de desenvolvimento técnico-tático-estratégico, próprios da função. O cargo proporciona irmos além. Ele oferece a oportunidade de direcionar a atuação também para aspectos ligados a formação humana, ética e moral dos nossos atletas.

É por meio de estímulos voltados à solidariedade, respeito, trabalho em equipe, perseverança, responsabilidade e outras virtudes que o treinador faz bem mais do que apenas praticar ideias de jogo e de treino. Terá construído e contribuído para o desenvolvimento do atleta em sua totalidade. Além de dar luz a valores, especialmente em jovens jogadores ainda em fase de crescimento e de formação de caráter.

Nesse contexto, o papel do treinador é fundamental, pois sua voz é quase sempre ouvida e capaz de impactar a vida de seus jogadores, tanto dentro quanto fora de campo. Ao assumir o papel de educador, o treinador passa a ajudar seus jogadores a desenvolver habilidades que transcedem o campo, dizem respeito a vida e até mesmo ao futuro de suas carreiras.

Para concluir, entendo que a responsabilidade de educar não deve ser atribuída exclusivamente às escolas e professores. Pais, familiares, amigos, colegas, mentores, entre outros, também exercem papel fundamental na educação das pessoas. Isso não é diferente em relação ao treinador, mas ele precisa tomar consciência disso. Ser educaDOR é passar a considerar as dores e necessidades dos seus atletas e fazê-los evoluir em relação a elas. Ao evoluir o ser humano a partir de suas dores teremos um atleta melhor, agora fica mais clara a intenção com a atividade descrita no primeiro parágrafo do texto, por exemplo. Quando temos um atleta melhor jogamos melhor e se jogamos melhor estamos mais próximos do resultado. Não é sobre "Isso ganha jogo?" é sobre "tornar-se e sentir-se capaz de ganhar o jogo".